"Só os mortos conhecem o fim da guerra"
Platão

sábado, 3 de outubro de 2009

Guerra em Honduras?



Os conflitos políticos ocorridos em Honduras desde o final de junho (fique por dentro do golpe, clique aqui) vem suscitando uma dúvida na população brasileira, refletida principalmente na internet. Não é difícil achar em sites de relacionamento, como o Yahoo! Respostas, o pessoal perguntando sobre a possibilidade de guerra em Honduras devido aos ânimos e conflitos gerados no país centro-americano. Na real, a guerra já começou; a chamada guerra diplomática, marcada pela diplomacia e estratégia, vem ocorrendo desde que Zelaya se fixou na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. De lá pra cá, a história toda só piora e o clima fica cada vez pior: a embaixada está cercada, já houve toque de recolher, há passeatas e mobilizações populares que apóiam tanto Zelaya quanto Micheletti ocorrendo diariamente, conflitos contra a polícia militar, mortes, etc.

A guerra contra o Brasil, porém, é “inviável”. É o que afirmou Nelson Jobim, ministro da defesa, nessa última segunda-feira do mês. Segundo ele, seu ministério no palácio do planalto não está de modo algum sincronizado com os acontecimentos ocorridos em Honduras: “Isso só ocorreria se declarássemos guerra, o que é inviável”. (leia mais aqui). O Brasil não está preparado para uma guerra, e isso é claro: apesar de possuir soldados e tecnologia suficiente para sair vitorioso, o país não em recursos para isso. A maioria dos grandes investimentos do governo brasileiro é patrocinado por grandes estatais e corporações nacionais, que levam o seu nome nos projetos financiados. Porém, nenhuma empresa gostaria de ter seu nome relacionado à guerra, por mais justa que essa pareça ser, ainda mais com essa onda de desenvolvimento sustentável e ecologia se espalhando nas grandes corporações mundiais. Sem ajuda financeira, nosso país teria que retirar os recursos para essa guerra dos cofres públicos, que já estão pra lá de vazios. Um país em desenvolvimento como o Brasil, sem dinheiro para investimentos sérios em áreas como saúde, educação ou segurança, com uma desigualdade social e uma péssima distribuição de renda (leia mais aqui) não tem condições de entrar em uma guerra em outro território, por mais favorável que isso pareça ser. A economia estagnaria e seriam tirados recursos aplicados no desenvolvimento de outra área importante. Parar o desenvolvimento significaria um retrocesso social. O máximo que ocorreria entre o Brasil e Honduras seria a retirada de todos os brasileiros de solo hondurenho, segundo Jobim.



Mas o caso de Honduras não se restringe à questão brasileira. No meio dos acontecimentos que envolveram o golpe de estado, o presidente da Venezuela, Hugo Chaves, afirmou que era preciso dar uma lição aos hondurenhos que, segundo ele, havia maltratado militares venezuelanos que estariam no território dos agressores. Chaves concluiu, em rede nacional, afirmando que a ação dos militares hondurenhos poderia levar a uma intervenção direta da Venezuela no caso (leia mais aqui).

O que mais é preocupante em Honduras, porém, é o uso da violência para conter a população (leia mais aqui e aqui), muitas vezes resultando até mesmo em mortes. A situação social, bem como o entendimento popular da crise que vem ocorrendo gera um clima de revolta e violência no povo hondurenho. Segundo Elvin Santos, candidato presidencial do Partido Liberal de Honduras (partido de Micheletti), a tentativa de retorno ao poder no presidente deposto pôs o país à beira de uma guerra civil. A única solução seria uma nova eleição por voto direto. Porém, vários países já declararam que não reconhecerão o presidente assim eleito, por ocasião da situação vivida pela nação.



Uma guerra civil em Honduras teria várias conseqüências terríveis para esse que é um dos países mais pobres e menos desenvolvidos das Américas. Podemos perceber isso pelas já graves conseqüências que o golpe trouxe: A descredibilidade de grandes nações mundiais, o rompimento econômico com grandes parceiros comerciais como a Espanha, as relações conflituosas geradas por países como o Brasil, etc. Essa situação pioraria, e a sustentabilidade local seria muito afetada. Cerca de 42% da população hondurenha tem menos de 15 anos de idade, o que significa que poucos tem condições de pegar em armas e lutar – mas mesmo pessoas sem condições pegariam, o que geraria a morte de muitos jovens. Além disso, quase 2 terços da mão de obra hondurenha vem de setores agrônomos. Com a guerra, muita gente que trabalharia nesses setores iria largar a enxada para pegar nas armas (e talvez para nunca mais voltar), o que geraria menos produção de alimentos e, por conseqüência, a fome. Além disso, a queima de plantações dos adversários com certeza seria uma das estratégias para conter os seus avanços. A economia do país também trancaria, e haveria muitas mortes, principalmente de civis (já que a população é muito jovem). Iria ser, entretanto, um cenário difícil de se concretizar, graças as intervenções da ONU e da OEA – principalmente – e do apoio geral recebido pelo presidente deposto Manuel Zelaya. Enquanto isso, a guerra diplomática em Honduras continua, mantendo o presidente por direito afastado e os golpistas no poder, sabe-se lá até quando. E o Lula tentando repreendê-los!

"Guerras armadas nascem quando as guerras diplomáticas morrem"

Napoleão Bonaparte


Quem quiser saber mais sobre os conflitos hondurenhos, no site do servidor Terra tem um portal com notícias atualizadas do conflito.

Por João Vicente Padão Rovani

3 comentários:

  1. Muito interessante, a analise sobre as condiçoes do Brasil de entrar em uma guerra, também acho muito pouco provável que o Brasil faça isso.
    Já o caso da Venezuela, eu nao tinha conhecimento
    Como a sustentabilidade brasileira e venezuelana poderia ser afetada diretamente, caso um destes entrasse em guerra contr Honduras

    Roberto - Equipe Cuidados Ambientais - 2ºA

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  2. "Guerras armadas nascem quando as guerras diplomáticas morrem" - Nada mais que a verdade, mas guerras diplomáticas demoram muito para morrerem, ainda mais com intervencão da ONU, mas o que serve de estopim para isso é a população em suas guerras civis!

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  3. @Roberto Isoppo

    Poisé, seriam casos diferentes o do Brasil e o da Venezuela. Os dois países, principalmente a Venezuela, tem um poder bélico muito superior ao de Honduras, o que realmente abalaria a sustentabilidade dos países é o fato deles serem países em desenvolvimento, ou seja, em uma situação de guerra qualquer um deles pararia de se desenvolver. Lê com atenção o post que tá escrito ali!


    @Carolina Lopes, Felipe Laier, Isadora Parmeggiani, Lucas Kraetzig, Pedro Heckmann

    O grande problema é que a ONU se ocupa mais em ajudar aos civis do que parar a guerra de fato. Há muito interesse girando ao redor, dinheiro e imagem. Não é tão simples assim. A ONU só faz algo realmente concreto quando tem gente apoiando ou pressionando, dependendo da situação. ONU significa Organização das Nações Unidas, ou seja, só funciona quando há união dos interesses dos seus membros!

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